1. DEFINIÇÃO:
É o conjunto de alterações morfológicas
que se seguem à morte celular, num tecido ou órgão vivo, resultante de ação de
gradativa por parte de enzimas sobre uma célula letalmente agredida.
2. ETIOLOGIA:
Os agentes que ocasionam a necrose
podem ser classificados em 5 categorias: isquemia ou anóxia; agentes físicos;
agentes químicos; agentes biológicos; e hipersensibilidade. Atuam primariamente
alterando as atividades metabólicas e bioquímicas normais da célula, levando-a
a morte. A distribuição da lesão celular e a extensão da necrose produzida é
variável e depende do agente específico, de sua virulência, do tempo de
exposição à injúria e da susceptibilidade individual das células. Assim, a
anóxia exerce seu maior efeito sobre as células nervosas, as quais são muito
sensíveis a tais ataques, enquanto que diversos produtos químicos podem exercer
pequeno efeito sobre os neurônios, produzindo lesão grave no fígado e rim.
2.1. ISQUEMIA:
A falta de suprimento sanguíneo para um
órgão priva-o do oxigênio e elementos nutritivos, determinando a morte de suas
células, a não ser que imediatamente se estabeleça uma circulação colateral
suficiente para prover suas necessidades metabólicas. A isquemia poderá
ocasionar a necrose de coagulação (comum em órgãos bastante irrigados).
2.2. AGENTES FÍSICOS:
Traumatismo, frio, calor, energia
radiante ou elétrica podem ocasionar necrose. Estes agentes podem atuar
diretamente sobre a célula ou produzir seu efeito de maneira indireta, tornando
inadequado o suprimento sanguíneo, lesando os vasos ou aumentando o metabolismo
das células de tal maneira que o sangue existente se torna insuficiente.
2.3. AGENTES QUÍMICOS:
Quase todos os produtos químicos em
concentração suficiente podem exercer efeitos tóxicos e determinar a morte
celular. Soluções concentradas de substâncias inóquas como o sal e a glicose
podem causar destruição local dos tecidos, ao perturbar o equilíbrio osmótico
celular. Entretanto, existem alguns produtos químicos com efeito mortal em
concentrações relativamente baixas (venenos).
2.4. AGENTES BIOLÓGICOS:
Bactérias, vírus e protozoários podem
ocasionar danos celulares. As bactérias elaboram produtos tóxicos que podem
armazenar-se no interior da célula bacteriana (endotoxina) ou então se
difundirem para o meio externo (exotoxinas). Os organismos exotóxicos são em
geral mais virulentos, e portanto possuem maior capacidade de produzir necrose
tecidual. Os vírus e protozoários são capazes de determinar a morte celular,
considerando a produção de enzimas ou frações tóxicas destrutivas ou por
mecanismos ainda mal conhecidos.
2.5. HIPERSENSIBILIDADE:
Pode originar reações imunológicas
violentas, levando à morte das células. Alguns pacientes sofrem de alergia
simples ao pó, mofo, que produz somente hipersecreção das glândulas mucosas
nasais. Porém, em outras situações, a reação é tão intensa que chega a produzir
vesiculações graves e morte das células epidérmicas.
3. ALTERAÇÕES ULTRA-ESTRUTURAIS DAS
CÉLULAS NECRÓTICAS:
A necrose é a soma das alterações
morfológicas que se seguem à morte celular num tecido vivo, constituindo-se na
principal manifestação celular irreversível. Dois processos essencialmente
simultâneos propiciam as alterações da necrose: digestão enzimática da célula e
desnaturação das proteínas. As enzimas catalíticas (decomposição) originam-se
ou dos lisossomas das células mortas ( digestão enzimática = autólise) ou dos
lisossomas de leucócitos imigrantes (heterólise) A célula pode ser dada como
morta, na microscopia óptica, somente após ter passado pela necrose. A célula
morta pede ter seu aspecto mais vítreo e homogêneo do que as células normais,
devido principalmente a perda de partículas de glicogênio. Depois de as enzimas
terem digerido as organelas citoplasmáticas, o citoplasma torna-se vacuolado e
toma aspecto de corroído. Finalmente, em alguns casos, pode ocorrer a
calcificação de algumas células. No núcleo, inicialmente é observado um
agrupamento de cromatina, criando grandes agregados anexos à membrana nuclear e
ao nucléolo. A degeneração nuclear poderá tomar dois rumos: em algumas células
o núcleo retrai-se progressivamente e se transforma numa massa densa, pequena e
enrugada de cromatina firmemente compactada (Picnose). Com o tempo essa
compactação passa por uma dissolução progressiva (Cariólise). Em outras
células, após sofrer picnose, o núcleo pode fragmentar-se em muitos seguimentos
(Cariorrexe). Comumente o núcleo desaparece.
4. TIPOS DE NECROSE:
4.1. NECROSE DE COAGULAÇÃO:
É o padrão mais comum de necrose e se
caracteriza pela conversão da célula num "arcabouço" opaco. Ocorre
devido à perda do núcleo, mas com a preservação da forma celular básica,
permitindo o reconhecimento dos contornos celulares e arquitetura tissular.
Usualmente, é o resultado de isquemia grave e repentina, em órgãos tais como o
coração e rim. Presumivelmente, o padrão resulta da desnaturação, não só das
proteínas estruturais como também das proteínas enzimáticas. O tecido morto
perde água sem se decompor e se torna firme, opaco, pálido e seco. É a consequência
da interrupção da circulação do sangue a uma área limitada de órgãos.
4.2. NECROSE CASEOSA:
É um tipo especial de necrose de
coagulação, no qual há considerável mistura de proteínas tissulares coaguladas
com lipídios, dando à área necrótica uma aparência comparável a do queijo
fresco. Frequentemente observada na tuberculose, porém moléstias ocasionadas
por fungos podem também ocasionar. O mecanismo de sua formação está
estreitamente relacionado à hipersensibilidade. O aspecto característico desse
tipo de necrose é de um material mole, friável e branco-acinzentado.
4.3. NECROSE GORDUROSA:
A necrose do tecido gorduroso é
particularmente importante na pele e em sítios ricos em gordura, tais como a
mama. A lesão determina a ruptura das células gordurosas com liberação para o
interstício de ácidos graxos livres (formando complexos com o cálcio), que se
depositam como sabões. Estes, por sua vez, suscitam reação inflamatória do tipo
corpo estranho, com o aparecimento de células macrofágicas que se apresentam
com o citoplasma finamente vacuolado. A necrose gordurosa pode ocorrer após
traumatismos. Mais comumente, é encontrada na necrose pancreática aguda, na
qual enzimas pancreáticas causas necrose.
4.4. NECROSE DE LIQUEFAÇÃO:
Quando as enzimas intracelulares não
são inibidas, os tecidos necróticos sofrem autólise ou auto-digestão. Neste
caso há um progressivo amolecimento dos tecidos com consequente perda da
arquitetura do órgão, caracterizando a necrose de liquefação, patologia muito
comum no Sistema Nervoso Central. Frequentemente as áreas amolecidas são
secundariamente invadidas por neutrófilos que, através de suas enzimas,
colaboram no fenômeno do amolecimento. Logo podemos admitir dois tipos de
necrose de liquefação: uma por autólise (quando as enzimas que lisam os tecidos
se originam da própria célula atingida) e outra, por heterólise (quando as
enzimas se originam de células estranhas = neutrófilos).
4.5. NECROSE GANGRENOSA:
Embora a necrose gangrenosa não
apresente um padrão distinto, o termo ainda é comumente usado na prática
clínica e cirúrgica. Geralmente aplica-se a um membro, como parte inferior da
perna, que perdeu seu suprimento de sangue e em seguida foi atacado por agentes
bacterianos. Os tecidos nesse caso passam por uma morte isquêmica de suas
células e necrose de coagulação modificada pela ação liquidificadora das
bactérias e leucócitos atraídos ao local. Quando o padrão coagulativo é
dominante, o processo pode ser chamado de gangrena seca. Por outro lado, quando
predomina o aspecto liquefativo, é denominado gangrena úmida.
FONTE: Uol.com.br/patologia
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